segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

FC BARCELONA - 2010/2011

A Liga BBVA está relançada após o empate do Barcelona em Gijón, permitindo a aproximação do Real Madrid, são agora cinco os pontos que separam os dois colossos de Espanha.

Barcelona e Madrid, duas cidades, dois clubes, duas politicas, duas grandes equipas, dois grandes treinadores.

Neste fim de semana, José Mourinho completou nove anos (148 jogos) sem derrotas caseiras. A última derrota caseira de José Mourinho foi ao serviço do Futebol Clube do Porto contra o Beira Mar, jogo no qual Fary saltou do banco para resolver. Relativamente a essa partida, o ex-treinador dos aveirenses, António Sousa, afirmou recentemente: "Viu-se logo que estávamos a defrontar um treinador sem medo, que ia mexer nas coisas, no futebol português e não só". Isto porque nesse jogo Deco e Jorge Andrade tinham sido expulsos e ainda assim José Mourinho tentou vencer o jogo.

Josep Guardiola garantiu esta noite a 79ª vitória no seu 100º jogo na liga à frente dos Culés. Não posso deixar de referir os números astronómicos da obra prima do ex-capitão blaugrana: 100 jogos, 79 vitorias, 14 empates e 7 derrotas. Inédito em Espanha!

Os estilos são completamente diferentes, o futebol é diferente, a postura é diferente, mas em comum têm os troféus. José Mourinho conquistou 17 troféus em dez anos de carreira. Pep Guardiola venceu 8 das 10 competições que entrou! Dois anos e meio de tiki-taka ... Épico? Si!! Dizer ainda que está traçado um novo desafio para José Mourinho: o Real Madrid nunca venceu Pep Guardiola.



O Barcelona joga em 1.4.3.3 no papel. Na verdade, quando tem a bola joga em 1.3.4.3, Daniel Alves torna-se um ala direito e faz o corredor direito todo. Puyol e Piqué são os obreiros da 1ª fase - construção. Seja em que ocasião for, começam a jogada sempre no pé, até nos pontapés de baliza abrem completamente, e os laterais posicionam-se no meio campo. A 2ª fase - preparação - é normalmente desenhada pelo trio do meio campo - Sergio Busquets, Xavi e Iniesta - e onde começam os primeiros desequilíbrios, com a colaboração dos laterais para uma progressão segura e coesa. Messi entra também, a espaços nesta fase do jogo. É a melhor equipa do mundo a jogar em espaços reduzidos e confiam totalmente no passe e recepção. Quantas vezes vemos Xavi simplesmente dar um passo ao lado a dar linha de passe? É certo que ele vai garantir a posse de bola e continuar o famoso tiki-taka. A 3ª fase - criação - mistura-se com a 2ª fase, isto porque o Barcelona joga sempre no pé e vai subindo em bloco, duma forma posicional e lenta, até chegar perto da grande área pela zona central ou quando abre um espaço na linha, normalmente é Dani Alves a aparecer a grande velocidade. Isto acontece com uma facilidade incrível porque os adversários do Barcelona normalmente jogam com os laterais muito fechados e perto dos centrais para reduzir espaços na zona central. Outra tendência do Barça é o atrair os adversários para um corredor e depois fazer uma rápida variação do flanco. O Barcelona explora muito as diagonais, normalmente Villa e Pedro. Pedro, proveniente da cantera, joga com os dois pés com uma facilidade incrível, faz as diagonais na perfeição com e sem bola, assiste muito e é goleador. David Villa, normalmente começa a jogada na esquerda e faz as diagonais sem bola, ou começa as triangulações com Iniesta e Messi até aparecer na zona do ponta de lança. Messi é a estrela maior desta equipa que vive do colectivo. Messi é quem dá o toque de génio à teia do Barça. Desequilibra sozinho e dá continudade às triangulações do meio campo. Assistências e golos é a essência do nº10 blaugrana. A 4ª fase - finalização - vive do tiki-taka que os "7 avançados" promovem até chegar à grande área, e das entradas frequentes de Dani Alves pelo lado direito. Os cruzamentos são maioritariamente rasteiros ou atrasados para a entrada dos médios vindos de trás - Inesta ou Xavi. O futebol do Barcelona é como uma teia, envolve os adversários, são levados a acreditar que aquele futebol de risco poderá ser anulado com uma pressão forte num momento chave, a verdade é que é esse espaço vazio criado por esse jogador que pressionou a bola que o Barcelona vai explorar de uma forma brilhante! É como se trocassem a bola pelo centro para atrair o máximo de adversários possível, convidando-os a encolher a equipa e depois um passe a rasgar na linha a criar o desequilíbrio. Um dado interessante: o trio de avançados, já apelidado de MVP (Messi, Villa e Pedro) já passou a barreira dos 70 golos esta época.
As transições defensivas são igualmente semelhantes a uma teia, pressionam muito forte assim que perdem a bola e raramente estão desposicionados, precisamente porque jogam um futebol posicional, com os jogadores muito próximos, a equipa curta, e sempre a "tocar" no pé. O que possibilita uma pressão sufocante no momento que perde a posse de bola pois normalmente estão muitos jogadores no centro de jogo.

Gostaria só de dar a conhecer uma variante táctica protagonizada hoje por Pep Guardiola, ante o Athletic Bilbao. Na ausência de Puyol, jogou Busquets a central e Mascherano a trinco. Villa jogou mais fixo na posição 9. Primeiro, dizer que a equipa perde muita capacidade na saída de bola e qualidade no passe e recepção com a presença do argentino, até pode ganhar em agressividade, mas uma equipa que muitas vezes ronda os 70% de posse de bola não tem de preocupar-se assim tanto com a vertente defensiva. A posse de bola sobrepõe-se à necessidade da conquista.
Hoje, frente ao Athletic, o usual 1.4.3.3 que se transforma em 1.3.4.3 na verdade transformou-se muitas vezes em 1.2.5.3. Isto aconteceu porque Busquets juntou-se muitas vezes a Mascherano para uma melhor qualidade da 2ª fase - preparação e 3ª fase - criação, deixando apenas Abidal e Piqué na linha defensiva.

É certo que foi uma das piores exibições do Barcelona (vitória garantida por Messi aos 78´) esta temporada mas são estas variantes tácticas que engrandecem o futebol, as equipas, os treinadores.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

(De)Formação


Estamos numa época onde as carências e a falta de qualidade tanto a nível de jogadores como de competitividade são gritantes. Julgo que chegou o momento de olharmos para a frente olhando para trás. Figo, Rui Costa, João Vieira Pinto, Vítor Baía, Cristiano Ronaldo são exemplos brilhantes do sucesso da nossa cantera. A década brilhante que a Selecção Nacional respirou está a actuar contra o nosso futebol, a política desportiva e as decisões dos responsáveis pelo futebol estão a por em causa o futuro das selecções jovens e mais tarde a Selecção “A” pagará esse preço.

No futebol juvenil, a lei diz que apenas um estrangeiro é permitido por equipa, no entanto, os clubes conseguem contornar essa lei assinando contratos profissionais. Em tempos, Guilherme Aguiar, comentador do programa O Dia Seguinte, disse: “Os verdadeiros títulos do futebol juvenil acontecem quando um jogador chega à equipa sénior.” – Concordo inteiramente com esta visão, de que interessa garantir títulos nacionais se depois não há jogadores formados no clube na equipa sénior?

A Liga Zon Sagres é a terceira no ranking europeu com mais jogadores estrangeiros (56.4%), atrás de Inglaterra e Chipre. Este indicador demonstra como caminhamos para o abismo e Rui Jorge, seleccionador nacional sub-21, expressou ao jornal Publico as suas reservas e preocupações: “Temos dificuldades em encontrar jogadores portugueses.”

Dos 481 jogadores seleccionáveis para a selecção sub-21 apenas seis (!) jogaram mais de 90 minutos na Liga Zon Sagres. Na última convocatória de Rui Jorge, apenas 6 dos 23 jogadores actuam na Liga Zon Sagres, outros 6 no estrangeiro e, finalmente, 11 jogam nas divisões secundárias de Portugal.

Na convocatória de Paulo Bento para o Portugal-Espanha, 8 dos 18 convocados (44.4%) foram formados no Sporting Clube de Portugal. O Sporting CP é a fonte do futebol português e a forte aposta na formação deveria ser a referência para outros clubes. Porém, enquanto Sport Lisboa e Benfica e Futebol Clube do Porto actuarem como se estivessem acima da crise, julgo que não vão seguir o exemplo do "Barcelona de Portugal". O Sporting CP é um projecto que tem tudo para dar certo, no entanto, a miopia desportiva, as decisões erradas e a consequente falta de troféus faz com que os jovens jogadores queiram mudar-se antes de atingir a maturidade e as medalhas, retirando o mérito e o valor à aposta do clube: a Formação.

Até quando vão os clubes e os responsáveis pelo futebol português assobiar e olhar para o lado? Se queremos selecções nacionais competitivas e um campeonato com o qual nos identificamos, é tempo de tomar decisões e perder a apetência pelos tiros nos pés.