terça-feira, 10 de abril de 2012

Adios, adieu, auf wiedersehen, goodbye

Justiça. É a primeira palavra que me ocorre para definir o jogo. Com a vitória de hoje, o Sporting alcança o quarto lugar da tabela com mais dois pontos que o Marítimo, que perdeu o derbi madeirense para o Nacional de Pedro Caixinha. Já o Benfica de Jorge Jesus, pode pegar no ukulele e cantar os sábios versos do eterno José Cid.
Os onzes não ofereceram grandes surpresas. Sá Pinto mostrava-se ambicioso, apostando em Elias Schaars e Matías no meio-campo. Muita técnica, muita capacidade de saída de bola; defensivamente, os dois primeiros tinham uma árdua tarefa por cumprir, mas o facto do Sporting jogar com o bloco mais baixo contribuiu para a ocupação dos espaços. Na frente jogaram Capel, Izmailov e Wolfswinkle. O russo, que continua em forma e voltou a cumprir os 90´, toca na bola como ninguém e é uma delicia vê-lo jogar e desfrutar do seu jogo. O futebol sai a ganhar. O Benfica tinha duas formas de abordar este jogo: jogando com Javi, Matic e Witsel ou apostando em Rodrigo a jogar perto de Cardozo. Sinceramente, nunca duvidei que Jorge Jesus fosse jogar como jogou, não é das opções mais complicadas que já tomou, visto que ele sabia que o Sporting provavelmente iria jogar com bloco baixo, como faz na Liga Europa, e bem. Por isso, acreditava que ia ter mais posse de  bola e estar mais perto da baliza contrária. Nos últimos dias afirmei entre amigos que a minha opção seria Javi, Matic (o de Londres) e Witsel mais solto, como acontecia na Bélgica. Há uma velha máxima no futebol aplicável a este jogo: "não é por ter muitos avançados que se ataca mais". E para mim isto foi previsível. Porquê? Porque algo me dizia que Rodrigo ia ter pouco espaço na zona onde gosta de vadiar - entrelinhas -, e o jogo tinha de ser disputado a meio-campo, e neste capítulo o Sporting tinha superioridade numérica. Vimos também um Elias muito atento às movimentações de Rodrigo. É verdade que o jovem espanhol gozou de algum espaço no início do jogo mas foi inconsequente. Desde o lance com Bruno Alves na Rússia, Rodri nunca mais foi o mesmo e o seu poder de decisão e capacidade para ser decisivo esfumou-se.
Sá Pinto, inteligente, adoptou a estratégia da Liga Europa, oferecer a iniciativa de jogo ao adversário e tentar explorar os bons avançados e a capacidade do meio-campo a distribuir jogo. Se o Benfica ia assumir o jogo, ia subir a defesa até ao meio-campo, e os centrais, que regressaram de lesão, iam ter dificuldades para parar jogadores mais rápidos com tanto espaço nas costas. Estratégia vencedora! Ainda assim, por alguns minutos, a superioridade estava a ser tão evidente que me pareceu que os "Leões" esqueceram um pouco o plano e avançaram as linhas e jogaram mais perto da baliza de Artur.
Jorge Jesus voltou a apostar em dois avançados - algo que normalmente não corre bem -, e também em Emerson em detrimento do competente e muito melhor Capdevilla. Do treinador do Benfica nem critico essa abordagem ao jogo como já referi acima, critico a forma como começou a mexer na equipa. Yannick? Bem, já lá vamos. Witsel voltou a fazer um bom jogo, mas por vezes estava muito longe da bola, o que resultava em zero soluções para uma saída de bola com qualidade. Que falta fez Aimar... que normalmente nestes momentos, é ele que desce e oferece a linha de passe. Ou seja, tínhamos a espaços um Witsel a invadir a zona de Rodrigo e a negligenciar a segurança na saída de bola. Lá está, era aqui que fazia falta um Matic, o tal Matic que encheu o meio-campo em Londres.
O Sporting foi melhor. Ser melhor não é ser bom. Ser melhor não é ter nota artística. Ser melhor não é dar show. Ser melhor é definir um plano e as coisas correrem bem. Chega de vozes que vulgarizam e minimizam este Sporting. Provavelmente muitas dessas vozes aplaudiram de pé o show táctico de Mourinho pelo Inter em Barcelona. "Uau, um moonstro da táctica". Mourinho tinha um plano, com onze jogadores à frente da baliza ou com um autocarro de três andares. Mourinho tinha um plano e as coisas correram bem. Ganhou. Sá Pinto tem um plano e as coisas correram bem. Ganhou. Li há bem pouco tempo num livro de Robin Sharma: "a sorte não é mais do que as recompensas inesperadas pelas escolhas inteligentes que resolvemos fazer". Neste caso, ao contrário do de Mourinho, não houve sorte. Sorte teve o Benfica em ter um grande Artur e uma trave no sitio certo.
Jorge Jesus não merece ser campeão. Quem aposta num defesa esquerdo incompetente o ano inteiro não quer ganhar jogos. Quem tem cinco pontos de avanço para o segundo classificado e vai jogar a Guimarães como se fosse jogar com o Carcavelos... não merece vencer o campeonato. Simples.
O Benfica causou pouco perigo, Cardozo quando mal servido faz alguma aflição. Bruno César não me convenceu ainda. Gaitán é normal não jogar muito, não ouviu o hino da Champions antes do jogo e na volta o United não enviou observadores a Alvalade.
O Sporting podia ter oferecido uma  vitória mais simpática aos seus adeptos, com outra arte e engenho e alguma sorte vá, podia ter feito mais golos. Valeu Artur.
A história do jogo está mais ou menos contada. Justiça é a palavra que me ocorre.
Há coisas que me intrigam. Jorge Jesus e as suas opções, as suas opções e Jorge Jesus. A sua atracção pelo abismo é qualquer coisa. Bem sei que se chama Jesus mas dai a procurar ser uma espécie de profeta... Yannick Djaló? É certo que entrou bem com o Chelsea mas todos sabemos a fraqueza mental do jogador. Tentar fazer dele herói num estádio difícil para o jogador é injusto para o próprio jogador. Não é muito inteligente. Lá está, porque (re)conhecemos a debilidade psicológica do jogador, ainda mais num estádio que lhe traz más recordações e bloqueios. Qualquer funcionário seja em que profissão for, se um dia for despedido ou empurrado para fora da empresa onde está, não quererá mostrar aos seus anteriores chefes e associados que ele afinal é bom? Não tentará mostrar que afinal tem valor para estar entre eles e que foram injustos com ele? Obviamente Djaló ia sentir dois pesos quando entrou: o da camisola do Benfica, e o peso de jogar contra o seu anterior clube no seu antigo estádio. Desconfiando do possível nível de ansiedade do jogador, era de esperar que a exibição fosse medíocre.
Para concluir, e só porque neste blog se fala essencialmente de futebol, do futebol jogado, da táctica, das opções e dos desempenhos, tenho de mencionar um lance que marca o jogo. No primeiro minuto há um penalti que fica por marcar ao Benfica. Independentemente de um possível penalti que ficou por marcar ao nº9 leonino, ou até o fora de jogo mal tirado a Rubio, este lance é chave porque poderia mudar toda a face do jogo. Ora vejamos: Benfica jogou com dois centrais recém-regressados de lesão e em mau estado físico, ainda assim, como tinha de assumir o jogo e vencer, fez subir o bloco defensivo até ao meio campo. Se o penalti é assinalado e Cardozo faz o 1-0, toda a estratégia (bem) desenhada por Sá Pinto ia por água abaixo. O Sporting joga com o bloco baixo por algumas razões: porque é bom no contra ataque e tem belíssimos avançados mas essencialmente para não expor a sua dupla de centrais. O Sporting a perder teria de fazer subir a equipa, Polga e Xandão são outros jogadores completamente diferentes se subirem até ao meio-campo e com espaço nas costas. Cardozo falhar o penalti também era um dos cenários possíveis, mas a bem da verdade e do rigor tinha de mencionar o lance.
Ao Benfica: Adios, adieu, auf wiedersehen, goodbye ao campeonato. A quatro pontos do líder, e com desvantagem no confronto directo, a conquista do escudo parece ser uma missão impossível. Ah! E atenção ao Braga...
Ao Sporting: o quarto lugar está bem encaminhado mas não será fácil de assegurar, o Marítimo ainda vai enfrentar Benfica e Porto, já o Sporting ainda vai ao Dragão e recebe o Braga na última jornada. O sonho é a Liga Europa. O Athletic Bilbao é o super adversário por ultrapassar mas quem elimina o Manchester City - e quem dá início ao desastre na Premier League - pode sonhar com tudo.

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