domingo, 28 de agosto de 2011

Vítor Pereira: Conceito de Estratégia

Sim, o título é inspirado no Capitão Nascimento do BOPE mas prometo que não vou falar em grego, latim, alemão e espanhol ... só em português.
O Barça venceu sexta-feira o FC Porto por 2-0 no jogo que decide o mais forte entre o campeão europeu e o vencedor da Liga Europa.
Primeiro, uma palavra para a UEFA: como é possível a supertaça europeia ser jogada naquele relvado? Barcelona e FC Porto mereciam um relvado perfeito.
Os Blaugrana eram favoritos e conquistaram o 74º título da sua História, tornando-se no clube espanhol com mais troféus, mas tenho de referir a forma como Vítor Pereira abordou o jogo.

O ex-treinador adjunto de Villas Boas manteve a táctica que joga sempre - 4.3.3 - com Souza, Moutinho e Guarín, na frente Rodriguez, Hulk e Kleber. A primeira mensagem para os jogadores foi esta: "somos Porto e não mudamos contra ninguém". Esse tipo de mentalidade e atitude é uma injecção de moral para os jogadores. Na defesa faltou Álvaro Pereira, de saída do clube diz-se. Jogou Fucile no seu lugar, e Sapunaru no lado direito, a dupla de centrais foi Rolando e o argentino Otamendi. Podemos sempre falar do relvado mas prefiro dar esmagadora maioria de percentagem de mérito ao FC Porto quando obrigou o Barça jogar mal muitas vezes e até mandar a bola para fora.
Vítor Pereira deu uma lição à Europa ao defender o futebol do Barcelona no meio campo adversário, sem recorrer a autocarros ou jogar no buraco. Pressão constante e de qualidade está só ao nível de grandes jogadores, com cultura táctica e com grande capacidade física. Sim, na segunda-parte o FC Porto quebrou um pouco fisicamente mas a forma como sofreu o golo - Guarín isolou Messi - contribuiu para o desanimo. É certo que não foi o FC Porto tradicional, isto é, ofensivo, com futebol mais fluído, mas o rigor táctico e competência defensiva para parar jogadores como Xavi, Iniesta e Messi levam a uma velha máxima no futebol: "tapa-se de um lado, destapa-se de outro". Para não falar da exemplar competência defensiva do Barcelona, ainda que só em 30% do tempo dos jogos normalmente. Relativamente ao Barcelona referir que jogou sem a dupla de centrais titular (Puyol e Piqué) e a decisão de Guardiola em colocar Keyta em detrimento de Busquets. Julgo que esta opção teve como origem o estado do relvado, isto porque o espanhol é um jogador com um futebol de risco por vezes, tem muita confiança, e defensivamente não é um jogador de choque. Guardiola previu uma batalha complicada no meio-campo. A defesa trabalhou muito bem, tanto nos duelos individuais como na defesa em linha apanhando Villa muitas vezes em fora-de-jogo. Moutinho por exemplo esteve muito apagado na primeira-parte, na segunda-parte cresceu. Guarín teve um jogo infeliz, desde o passe para Messi até à expulsão dispensável. Souza não tremeu, eu não esperava tanto à vontade num jogo daqueles por parte do jovem trinco brasileiro. Rodriguez foi a surpresa e aposta ganha. Muito atento no trabalho defensivo, nomeadamente às subidas de Daniel Alves. No ataque não produziu muito, vitima do que sofreu o ataque dos Dragões, muito trabalho defensivo retira explosão e capacidade para boas decisões. Hulk foi o grande prejudicado desse facto. Correu muito para ajudar no processo defensivo, na primeira-parte ainda desequilibrou num ou noutro lance mas na segunda-parte desapareceu. Kleber foi o jogador esforçado do costume, pressionou muito, ainda mostrou alguns pormenores técnicos mas em algumas ocasiões demorou a soltar a bola, umas vezes por falta de apoio, várias porque simplesmente não soltou.

O Conceito de Estratégia de Vítor Pereira foi brilhante e corajoso a meu ver. Manter ADN do FC Porto, valorizar os seus jogadores, passar a mensagem que não muda nada nem contra a melhor equipa do mundo. É verdade que perdeu o jogo, mas julgo que a equipa saiu ainda mais forte, unida e competente. Os adeptos estão orgulhosos pela sua equipa, registei a forma como um rapaz apoiou Guarín já no aeroporto Francisco Sá Carneiro. Desgostosos porque viram perder um grande FC Porto que merecia mais, desgostosos porque viram o Barcelona marcar um golo através de um erro individual impensável a este nível, desgostosos porque viram um penalty claro não ser marcado já perto do final do jogo. Mais tarde, depois de um passe magistral de Messi, Cesc Fabregas fez o 2-0 com a classe do costume.
Apesar de todos os elogios a Vítor Pereira, tenho uma critica: com o desenrolar da segunda-parte e com o visível cansaço a apoderar-se das pernas dos jogadores, pareceu-me que o treinador estava satisfeito com o 1-0. A entrada de Varela é natural. A substituição de Souza por Fernando com o fim de melhorar e refrescar o meio campo parece-me também normal. No entanto, foi quando trocou Kleber por Belluschi que eu senti que estava satisfeito com o resultado. Acho que foi traído pelo medo ao ver o cansaço da equipa. Ver Guarín como jogador mais avançado não faz qualquer sentido, nem que chutasse três vezes melhor que o Sanchez. Pensei que VP iria fazer entrar Djalma para manter o trabalho defensivo e de pressão, e de quem sabe desequilibrar, e lançar Hulk para o centro do ataque. Julguei que Hulk seria o striker de serviço por algumas razões: estava muito fatigado e menos competente a defender, não recebia bolas já de frente para o lateral esquerdo e aí não desequilibra com a facilidade do costume, e, finalmente, ao estar na linha limite da defesa, poderia virar e ganhar as costas da defesa com mais facilidade.
Em Portugal, acredito que os rivais directos olharam com preocupação para a exibição do FC Porto.
Resta-me fazer uma queixa a Pep Guardiola: o Futebol quer Fabregas 90 minutos se faz favor.

1 comentário:

  1. Na realidade deve-se louvar a forma como o Porto jogou e joga, olhos nos olhos com quem quer que seja. A questão do Fabregas é a de sempre, o Barça tem tantos de qualidade que mesmo sendo o principal alvo nas contratações, é difícil pegar o lugar, Xavi e iniesta estão assegurados e roubar o lugar ao busquets não será facil. ex: selecção Espanhola!!! Esperar para ver!!!

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