sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sporting CP: que caminho?

A grande missão do Sporting CP este ano era fazer esquecer as duas épocas anteriores. A nova direcção teve o mérito de aproximar os adeptos da equipa, teve o mérito de conseguir contratações interessantes e, não lhe consigo chamar mérito, decidiu dar o murro na mesa e voltar a limpar as armas e apontar à arbitragem. É certo que neste início de época tem razões de queixa, mas os problemas do clube de Alvalade estão a anos-luz do homem do apito.

Nunca é demais lembrar que os últimos dois anos foram um desastre: em 2009/2010 terminou a 28 pontos do campeão SL Benfica; em 2010/2011 acabou a 36 pontos do actual campeão nacional FC Porto. Curioso nos dois anos terem atingido exactamente os mesmos pontos (48).

A grande contratação da época foi Domingos Paciência, já dizia João Pereira. Era o trunfo mascarado da campanha eleitoral, nunca foi apresentado como tal mas sempre se falou nos bastidores. No entanto, por muito competente que seja Domingos Paciência, não é o Michael Scofield. Não tem tatuado no seu corpo a fórmula mágica para fazer do Sporting CP um clube vencedor. Domingos Paciência tinha e tem um plano. O treinador de Leça da Palmeira passou com sucesso em equipas pequenas - Leiria e Académica - e o seu Braga era cínico e perito no contra-ataque, mas há uma pergunta obrigatória: saberá como colocar o Sporting a jogar à equipa grande?

A nova direcção do Sporting CP apostou forte na reconstrução do plantel: quase 30 milhões gastos em 16 (!) jogadores. Estava ameaçada a tal política que tanto elogiei no primeiro artigo sobre formação, o "Barcelona de Portugal" começa a virar as costas à cantera.
Para a defesa foram contratados Rodriguez (Braga), Onyewu (AC Milan), Santiago Arias (Equidad), Turan (Grenoble), emprestado ao Beira-Mar, e Insua (Liverpool). A defesa era um dos grandes problemas do clube nos últimos anos e apesar destas contratações todas, concluo que o clube não chegou ao patamar de qualidade que pretendia. A defesa é frágil mas não é só pela qualidade individual, entendo que tem a ver com o clube. Lembram-se da defesa do Braga quando lutou pelo título com o Benfica há dois anos? João Pereira, Rodriguez, Moises, Evaldo. Três estão no actual Sporting. Carriço está longe do jogador que quiseram fazer dele. Onyewu ainda é uma incógnita. Anderson Polga que teve com um pé fora de Alvalade, foi titular frente ao Marítimo. Falta um comandante, um líder da defesa. Não sei que problemas houve com Marco Caneira mas não teria lugar nesta defesa? E Miguel Teixeira, das escolas do clube e que joga actualmente no Zurique, será menos jogador que Carriço? Veremos na Liga Europa. E Mário Rui, vice campeão mundial sub20 que passou pelas escolas do Sporting e Benfica, será menos jogador que Turan? O capitão da selecção Nuno Reis também é jogador do Sporting, emprestado ao Cercle Brugge, não será jogador para este plantel? Entendo a política de empréstimos que, normalmente, é benéfica para os jogadores, mas gastar dinheiro em jogadores estrangeiros que não são melhores é uma política "que a mim não me assiste".

No meio-campo é onde está o ouro do Sporting. Foram contratados Schaars (AZ), Rinaudo (Gimnasia), Luis Aguiar (Dinamo Moscovo), e Elias (Atletico Madrid). Elias foi o último reforço e o jogador mais caro da história dos Leões (8.9 milhões). Depois há ainda André Santos, ja na Selecção A, André Martins, jogou ontem de início na vitória dos sub21, e os craques Izmailov e Matías. O russo é provavelmente o jogador mais evoluído tecnicamente do plantel mas o joelho continua a dar dores de cabeça. Matías é a eterna esperança, óptimo toque de bola mas não consegue assumir-se na equipa. Em conversa com amigos no início de época, afirmei que suspeitava que o Luís Aguiar ia roubar o lugar ao Matías. Bom, um está lesionado e outro nem lugar tem para ser roubado. Finalmente, Schaars é jogador de selecção mas parece-me um jogador normal, faz o simples. Rinaudo foi quem mais me surpreendeu. Rápido na conquista da bola, um autêntico Petit rápido e com pilhas, no processo ofensivo tenta procurar os construtores de jogo, que muitas vezes estão longe criando um buraco no meio-campo.

O ataque, depois das saídas de Postiga (Saragoça) e Djaló (Nice), está entregue aos reforços. Bojinov (Parma), Wolfswinkel (Ultrecht), Capel (Sevilha), Jeffren (Barcelona), Carrillo (Alianza Lima) e Rubio (Colo-Colo). Fico reticente quando vejo contratações em grande número. Fico mais quando vejo sair o melhor avançado da equipa. Djaló era um caso perdido e escolheu bem, uma das cidades mais belas. Diz-se que Bojinov ligou a Luís Figo para pedir o nº7 do Sporting. Em jeito de provocação, duvido, começo a achar que deve ser política do clube colocar o nº7, o tal azarado, ao jogador mais propenso a lesões. O holandês é um grande ponto de interrogação. Parece o Fernando Torres, o de agora, sem garra, sem golos. Capel é dos melhores reforços, não me parece tão rápido como antes, mas sabe cruzar como ninguém. Jeffren, à imagem de Capel, tem muito para dar ao Sporting. Jovens e ambiciosos, com uma das melhores escolas do mundo: a espanhola. Carrillo só vi jogar uma vez e fez mossa nos rins do defesa esquerdo, rápido e drible fácil. Não conheço o estilo de Diego Rubio ainda mas registei que marcou em vários jogos de pré época e é um jogador que deixa os adeptos leoninos com água na boca. Seria Saleiro assim tão dispensável?
Um jogador que merece a atenção de Domingos é Edgar, avançado do Vitória de Guimarães. Julgo que poderia ser uma das soluções para o ataque.

Que equipa consegue vencer após contratação de 16 jogadores?
Que treinador consegue montar uma equipa unida e coesa em 3 jornadas?

Continuo a dizer que qualquer um dos reforços, isoladamente, no FC Porto ou SL Benfica estaria a render muito mais. Sim, é uma coisa básica o que estou a escrever. Mais básico é pensar que os jogadores não têm valor e que Domingos não montará uma equipa competitiva. É certo que provavelmente não será a tempo de lutar pelo título mas "Roma não foi construída num dia". Em inglês soa melhor.
Veremos como se comporta a equipa nas próximas duas jornadas. Paços de Ferreira e Rio Ave fora.

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