quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Liga dos Campeões: a águia sabe voar

O SL Benfica e o Manchester United empataram a uma bola ontem na Luz num verdadeiro jogo de Liga dos Campeões. Cultura táctica, respeito mútuo, qualidade técnica, poucas oportunidades de golo e dois bons golos. O Estádio da Luz estava vibrante, 64.000 pessoas em estado de euforia por estarem presentes num jogo especial, num "clássico europeu" como denominou Alex Ferguson.
O SL Benfica voltou à fórmula Javi - Witsel - Aimar e entrou bem no jogo. Mais bola por alguns minutos, algo consentido pelo colosso inglês, é incrível a cultura e a tranquilidade dos jogadores ingleses, não ficam ansiosos sem bola, sabem que espaços têm de defender e fechar. Jorge Jesus optou por uma equipa mais consistente e cautelosa, a entrada de Rúben Amorim em função de Nolito ou Bruno César deixa isso claro. Alex Ferguson deixou alguns craques no banco, provavelmente com vista ao embate com Chelsea no próximo domingo, mas só quem não acompanha a equipa de Manchester ao longo dos anos na Champions é que não sabe que a presença de jogadores como Park, Fletcher e Valencia é algo normal e regular. Aproveito para revelar um dado assustador: nos últimos quatro anos o Manchester teve presente em três finais, perdendo duas com o fantástico Barcelona de Guardiola e vencendo uma ao Chelsea em penaltis.
A partir dos quinze, vinte minutos o Manchester apoderou-se da bola, mas como Alex Ferguson revelou, uma posse de bola muito cautelosa, distante da área, só com o intuito de dominar e controlar o jogo, isto porque quando entravam na área de Javi e Witsel, e depois Luisão e Garay, normalmente a jogada terminava. Foram os quatro homens do jogo para mim a nível táctico, fizeram um trabalho soberbo, incansável mas muito sábio. Luisão nas alturas e antecipação, Garay mais na antecipação e em lances de choque, a contrariar o que o seu pai disse aquando da sua chegada, que o que pecava em choque ganhava em velocidade; Javi Garcia fez dos melhores jogos pelo Benfica, a nível defensivo, super rigoroso e concentrado, a presença de Witsel ajudou e muito é certo, mas vimos um Javi muito confiante com a bola no pé. Witsel é um jogador completo, pergunto-me como é que Arsene Wenger com as perdas no meio-campo não foi buscar este belíssimo jogador. A nível defensivo fez um grande trabalho, bem posicionado, agressivo na bola (talvez tenha pecado neste aspecto quando Giggs passou perto no lance do golo...), e depois é um jogador que permite congelar e circular a bola, qualidade técnica e cultura táctica está no seu ADN. O Manchester jogou com um meio campo forte a nível fisico - Fletcher e Carrick - e com um génio à solta, Ryan Giggs, quase 38 anos e continuou a dar dores de cabeça, foi o jogador que mais desequilibrou e conseguiu furar as duas muralhas defensivas. Pablo Aimar não teve tanta bola como desejável mas sentia-se outro futebol quando tocava na bola.
Aos 24´ Gaitán ultrapassou o opositor na linha e com uma trivela espectacular fez um passe para as costas de Evans, Cardozo fez algo pouco visto: dominou no peito, tocou logo para o pé direito, ágil, rematou e fez um belo golo. Cardozo estava soltinho, com vontade, disponível, comprometido com a equipa, a mandar a equipa subir para ajudar na pressão, ganhou bolas de cabeça a uma dupla de centrais poderosa, algo que não acontece no campeonato português e que me leva a perguntar se será falta de ambição.
Antes do intervalo, o génio à solta resolveu mostrar porque é um dos melhores jogadores de sempre. Ryan Giggs aproveitou uma rara desatenção e moleza do meio campo/defesa do SL Benfica, com uma diagonal ganhou espaço para colocar a bola na baliza de Artur. Um belo golo, digno do jogador que é.
Na segunda parte houve mais Manchester United, a posse de bola tornou-se mais agressiva, mais subida, já rondava mais a área do SL Benfica e chegou a ter uma grande oportunidade por Ryan Giggs novamente, mas Artur fez uma grande defesa. Jorge Jesus percebeu que tinha de alterar algo para agitar o jogo porque o ataque da equipa estava a desaparecer e lançou Nolito, os adeptos deliraram. Nolito entrou, como sempre, ansioso, a querer fazer tudo e rápido demais, perdeu duas bolas que podiam colocar em xeque a sua equipa. Depois, soltou-se e deu algumas dores de cabeça à defesa do MU, no seu jeito desengonçado com a bola colada ao pé, fez sonhar os adeptos. Quase marcou a passe de Gaitán, depois de um contra-ataque desenhado por Pablo Aimar, o guarda redes Lindegaard fez uma grande defesa.
Aos 75 minutos Jorge Jesus optou por trocar Matic por Aimar. Julgo que pensou que como o jogo estava, preferiu emprestar à equipa um meio campo mais físico e com maior capacidade no jogo aéreo e evitar uma derrota nos momentos finais. Mas foi depois desta substituição que se deu a melhor oportunidade de golo do clube da Luz, depois de uma jogada de insistência e crença, Nolito ultrapassou alguns adversários e, talvez sem força, chutou sem sucesso de pé esquerdo. A equipa de Jorge Jesus controlou os últimos quinze minutos.
A exibição foi muito interessante, podia ter ganho é certo, mas jogou contra um colosso. É certo que Alex Ferguson colocou Nani e Chicharito para ameaçar as redes de Artur mas os jogadores ingleses não pareciam estar desagradados com o empate na Luz. Não posso deixar de referir a exibição apagada do jogador mais temido, Wayne Rooney teve uma noite infeliz, longe da sua qualidade e brilhantismo.
Destaquei Garay, Luisão, Witsel e Javi, mas os dois laterais fizeram também um óptimo jogo. Maxi foi mais do mesmo: concentrado, incansável, técnico, rijo, cego pela bola. Emerson tinha pela frente um jogador muito mais rápido - Valencia - e desempenhou com sucesso a sua função.
Os adeptos saíram satisfeitos e orgulhosos por sentir que a sua equipa discutiu o jogo contra um gigante como o Manchester United. Era importante começar bem, um empate é um bom começo tendo em conta o grupo. Agora, é tempo de não permitir dejavus do ano passado assombrar a equipa, Jorge Jesus e os seus jogadores têm de manter este compromisso com os adeptos, esta seriedade, esta qualidade. É obrigatório atingir os oitavos de final.

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