domingo, 7 de abril de 2013

Tiago Maia: A complexidade do 4.4.2 losango


Com frequência se discutem o 4.3.3, o 4.4.2, o 4.4.2 losango ou o 3.5.2. Estamos a falar de exemplos de sistemas tácticos e não propriamente da forma como as equipas jogam. Estes sistemas são formados por elementos que têm vida e que lhe dão uma dinâmica própria, os jogadores. Além da influência destes, também as equipas técnicas e o contexto do próprio clube condicionam a forma de jogar duma equipa. Mas há características que sobressaem mais em alguns sistemas. 

Na minha opinião, o 4.4.2 losango é um dos sistemas mais complexos e que tem características que lhe dão um aporte muito positivo em alguns aspectos e muito negativo noutros, sendo por isso um sistema menos equilibrado do que outros. Este desequilíbrio é desde logo visível pela forma menos racional como o espaço é ocupado: há uma grande densidade no corredor central que contrasta com uma tendência para se criarem situações de inferioridade numérica nos corredores laterais. Como o corredor central é o caminho mais curto para a baliza, demarca-se como um sistema muito vertical, que se enquadra melhor em equipas que optam por um jogo mais directo e rápido, seguro defensivamente pela densidade no corredor central mas que depois torna difícil um jogo de posse mais elaborado e em largura. No princípio temos um problema maior a atacar e um problema maior a defender. A atacar precisamos de laterais ofensivos, um excelente desdobramento exterior dos médios interiores, do médio ofensivo ou até mesmo de um dos pontas-de-lança para garantir vantagem espacial e numérica nos corredores laterais. São muitas possibilidades, o que pode ser positivo, mas a verdade é que se não existir um processo de treino e análise que consolide estes comportamentos, a equipa tenderá a revelar grandes dificuldades para manter a posse de bola e será incapaz de criar desequilíbrios com frequência em ataque posicional. A defender o problema é igualmente garantir vantagem espacial ou numérica nos corredores laterais. Perante equipas que consigam variar rapidamente o corredor de jogo e que tenham laterais ofensivos as dificuldades para impedir a criação do adversário são mais que muitas. Só com grande capacidade para orientar e pressionar o adversário no centro do jogo, bloqueando variação de corredor e fazendo os movimentos do bloco em largura muito rapidamente (o que tecnicamente chamamos “basculações”) se consegue ser eficaz. Volto a referir, sem consistência no treino e no processo de análise (até num dia menos inspirado) …as coisas ficam muito difíceis, mais do que se estivéssemos a jogar num sistema mais simples, que por si só garanta melhor ocupação do espaço.

Para finalizar, volto ao início. Não há 4.4.2 losango iguais. Os jogadores e os treinadores criam dinâmicas que os diferenciam. Dou 2 exemplos. O Benfica por vezes joga num sistema que se parece com o 4.4.2 losango (é mais 1:4:1:3:2). Tendo como médios-interiores jogadores com características de extremos ou alas temos boa parte do problema da largura resolvido. 2.º exemplo. O mister Jesus disse recentemente que o Barcelona defendia em 4.3.3 e atacava em 4.4.2. Não explicou porquê mas a minha perspetiva é esta: os dois extremos abertos que constantemente fazem diagonais para o corredor central fazem de pontas-de-lança (Villa, Alexis Sánchez, Pedro ou Tello); Messi ou Fábregas são o médio-ofensivo; depois temos dois médios interiores (Xavi-Iniesta), um médio defensivo (Busquets) e uma linha defensiva com 4 elementos. Poderá considerar-se uma adaptação a partir do 4:4:2 losango tradicional e que também nos resolveria o problema da largura de forma relativamente simples. Até porque a defender a equipa organiza-se em 1.4.1.4.1.

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